Por nosso bem tiremos
Julgarmo-nos deidades exiladas
E possuindo a Vida
Por uma autoridade primitiva
E coeva de Jove.
Altivamente donos de nós-mesmos,
Usemos a existência
Como a vila que os deuses nos concedem
Para, esquecer o estio.
Não de outra forma mais apoquentada
Nos vale o esforço usarmos
A existência indecisa e afluente
Fatal do rio escuro.
Como acima dos deuses o Destino
É calmo e inexorável,
Acima de nós-mesmos construamos
Um fado voluntário
Que quando nos oprima nós sejamos
Esse que nos oprime,
E quando entremos pela noite dentro
Por nosso pé entremos
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa
O poema é um desafio ao poder dos deuses, plasmado por meio de uma linguagem essencialmente moralista, exortando os homens para que se libertem do poder e da tirania dos deuses (senhores do nosso destino), livrando-se assim da angústia e do sofrimento existenciais.
O poeta adverte os homens para a necessidade de encarar a vida serenamente (altivamente donos de nós-mesmos), mas assumindo uma atitude de autodomínio e de auto-suficiência, com tranquilidade, não obstante a certeza de que a vida é uma caminhada para a morte.
Para podermos assumir tal auto-domínio perante o destino inexorável (do qual nem os deuses estãi isentos)
aconselha-os a construir nós mesmos o nosso destino, para podermos criar a ilusão de caminhar sobre os nossos próprios pés no mundo dos mortos(pela noite dentro).
A mensagem do poema é bem explicitada, ou seja: sublinha a idéia de que, apesar de ser uma divindade marginalizada pelos deuses, o homem é semelhante a estes. Como tal deve tomar as rédeas do próprio destino, destemidamente, com sombranceria e em estado de serenidade, de paz epicuristas.
Fiel ao estilo clássico, o poeta lança mão de todos os elementos do classicismo em suas odes: o uso da mitologia, o
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