Nenhum poeta exprimiu de forma tão bela e dolorosa a agonia da saudade e da solidão causada pela distância de um amor, arrebatado pela morte, como o fez Camões no soneto que se segue:
O céu, a terra, o vento sossegado...
As ondas, que se estendem pela areia...
Os peixes, que no mar o sono enfreia...
O nocturno silêncio repousado...
O pescador Aónio, que, deitado
Onde co vento a água se meneia,
Chorando, o nome amado em vão nomeia,
Que não pode ser mais que nomeado:
— Ondas – dezia – antes que Amor me mate,
Tornai-me a minha Ninfa, que tão cedo
Me fizestes à morte estar sujeita.
Ninguém lhe fala; o mar de longe bate;
Move-se brandamente o arvoredo;
Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita
Logo na primeira quadra já se anuncia o clima de tristeza que percorrerá o soneto, ao evocar a paisagem litorânea noturna, tranqüila e silenciosa que estabelece uma oposição ao estado de alma sombrio e torturado do pescador Aónio, imerso em sua dor. A seguir, (segunda quadra e primeiro terceto) o pescador Aónio começa a exteriorizar a sua mágoa, proferindo sentidas palavras de funda tristeza, faz a sua tocante suplica às ondas do mar, implorando-lhes que devolva a sua amada, prematuramente falecida, pelas águas levada.
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O soneto se encerra com versos que novamente evocam a placidez da paisagem litorânea, que responde com a mesma e inalterável serenidade ao sofrimento de Aónio: as ondas do mar quebrando na praia ao longe, o ruído suave do arvoredo e leve deslizar do vento levando a sua voz .(leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita).
O que resta a Aônio é apenas a saudade, a solidão e a ausência da mulher amada, aos quais se soma o intenso sentimento de resignado abandono. Nessa situação irremediável o que se verifica é um doloroso sentimento de impotente e angustiada amargura, na medida em que o homem percebe que está irremediavelmente sozinho com a sua dor e com a sua aflitiva e agônica tristeza, rodeado por uma paisagem absolutamente serena e alheada ao seu mal, ao seu drama existencial.
O que resta a Aônio é apenas a saudade, a solidão e a ausência da mulher amada, aos quais se soma o intenso sentimento de resignado abandono. Nessa situação irremediável o que se verifica é um doloroso sentimento de impotente e angustiada amargura, na medida em que o homem percebe que está irremediavelmente sozinho com a sua dor e com a sua aflitiva e agônica tristeza, rodeado por uma paisagem absolutamente serena e alheada ao seu mal, ao seu drama existencial.
Há um outro soneto de Camões no qual ele focaliza a natureza , tomando-a como pano de fundo para que falar do sentimento amoroso, da saudade pela distância da amada. Desta feita, ele pinta um quadro encantador , quase uma aquarela da beleza da paisagem., no soneto em questão, o poeta aponta as suavidades de cenário bucólico, que o enche de encantamento, como mero pretexto para falar dos seus sentimentos.
«A formosura desta fresca serra
E a sombra dos verdes castanheiros,
O manso caminhar destes ribeiros,;
O rouco som do mar, a estranha terra,
O esconder do sol pelos outeiros,
O recolher dos gados derradeiros,
Das nuvens pelo ar a branda guerra;
Enfim, tudo o que a rara natureza
Com tanta variedade nos of'rece,
Me está, se não te vejo, magoando.
Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
Sem ti, perpetuamente estou passando
Nas mores alegrias mais tristeza.
Do terceiro verso em diante, que Camões faz a passagem dos louvores à natureza para focalizar seus próprios sentimentos, ou seja: toda a magnífica beleza da paisagem, todo o encantamento, alegria e prazer que esta desperta em sua sensibilidade, transformam-se em sofrimento e mágoa, se está sozinho, sem a companhia da mulher amada. Sem a presença dela, tudo perde o sentido, tudo o aborrece e entristece, pois, como ele diz: “Sem ti, perpetuamente estou passando / Nas mores alegrias mais tristeza.»
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