Quem anda pelas lágrimas perdido,
Sonâmbulo dos trágicos flagelos,
Não quem deixou para sempre esquecido
O mundo e os fáteis ouropéis mais belos.
Não quem ficou do mundo redimido,
Expurgado dos vícios mais singelos,
E disse a tudo o adeus indefinido
E desprendeu-se dos carnais anelos!
São quem entrou por todas as batalhas
As mãos e os pés e o flanco ensanguentado,
Amortalhado em todas as mortalhas.
Quem florestas e mares foi rasgando
E entre raios, pedradas e metralhas,
Ficou gemendo mas ficou sonhando !
Neste soneto, de modo belíssimo, Cruz e Sousa coloca a capacidade de sublimação do ser humano e a capacidade de vencer tudo aquilo que foi na sua vida realidade: “Quem anda pelas lágrimas perdido, sonâmbulo dos trágicos flagelos…” Aqui também, do ponto de vista literário, estão todos esses valores que se encontram na poesia do Simbolismo.
Cruz e Sousa tem uma junção única na poesia brasileira – talvez Afonso Guimarães, seu companheiro de poesia simbolista, também o tenha -, uma fusão indefinível entre o Romantismo, estilo anterior a ele, o Simbolismo, sua marca, e o Parnasianismo.
O Parnasianismo é contemporâneo do Simbolismo. O Parnasianismo busca a pureza da forma, a palavra como expressão exclusiva da beleza. Inclusive, critica-se no Parnasianismo o predomínio da forma até sobre o tema, o conteúdo. E, no entanto, o Parnasianismo é um dos momentos mais elevados da poética brasileira.
O Modernismo, que se voltou violentamente contra esse estilo de poesia em 1922, negava ao verso a grande eloquência, negava ao verso o direito à busca da beleza pura, negava ao verso a forma estrita do soneto, a forma estrita da métrica, a forma estrita da rima, porque buscava libertá-lo do que chamava peias que o impediam de expandir-se do ponto de vista da expressão. A verdade é que o Simbolismo abre novos caminhos, como é verdade que esse tempo faz uma poesia absolutamente notável.