A obra de Cecília Meireles, marcada pelo ecletismo e pelo intenso lirismo, escapa a rotulações estéticas específicas. Ela adentrou o Modernismo, mas continuou a receber influencias do Simbolismo e a assimilar certos elementos formais oriundo do classicismo e do romantismo dentre outros diferentes estilos de época.
Dotada de uma intensa e profunda sensibilidade, Cecília Meireles revelou-se, desde a sua estréia, como uma extraordinária poeta lírica. Seu lirismo não é expresso apenas em suas poesias. Ele vai bem além dos versos, para impregnar as suas estupendas crônicas, verdadeiras páginas de prosa poética impregnadas de sensibilidade e sentimento.
Vejo-te em seda e nácar,
e tão de orvalho trêmula,
que penso ver, efêmera,
toda Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil.
Meus olhos te ofereço:
espelho para a face
que terás, no meu verso,
quando, depois que passes,
jamais ninguém te esqueça.
Então, de seda e nácar,
toda de orvalho trêmula,
serás eterna. E efêmero
o rosto meu, nas lágrimas
do teu orvalho... E frágil.
Cecília, desde o primeiro verso deste poema, esboça uma visão muito particularizada da rosa que contempla, a partir da sua percepção, nesta flor, de uma representação da beleza idealizada.
Com base da personalização da rosa, a poeta concebe a idéia de que as gotas de orvalho, que salpicaram as suas pétalas, são as lágrimas de quem é consciente de sua efemeridade e do quanto é passageira a beleza.
A poeta expressa o seu desejo de tornar eterna a beleza da rosa, dedicando-lhe uma poesia (terás, no meu verso, / quando, depois que passes, / jamais ninguém de esqueça).
O poema é finalizado com o reconhecimento do eu lírico de sua própria efemeridade. Ele toma consciência da semelhança de sua situação com a da própria rosa. Todavia, esta já foi alçada à eternidade pela força da poesia, enquanto a poeta vê-se perecível e frágil tal como a rosa.
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Zenóbia Collares Moreira Cunha.
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