Poetisa nascida em Lisboa, no ano de 1938, Rita Olivais fez a sua estréia literária em 1987, com o livro de poesias Pausas num Silêncio.
As poesias reunidas nesse livro trazem uma espécie de “novo romantismo” entremeado se uma discreta sensualidade, já presente na obra de poetas que estrearam na década de 70, mas que encontrara espaço para a sua permanência na poesia das décadas que se seguiram, disputando, com a poesia do realismo quotidiano, a preferência das poetisas com o realismo quotidiano:
VITRAIS
Dizes que os meus olhos ficam verdes
dor da erva doce onde me deitas;
Dizes que os meus olhos ficam loiros
cor do areal onde me deitas;
Dizes que os meus olhos ficam negros
Quando em noites brancas não me entrego;
Dizes que os meus olhos são azuis
quando já não espero e me possuis.
Então
eu sou a cobra que assobia
se enrola, cola e te asfixia;
Então
eu sou a leoa que magoa
te morde, ataca e não avisa.
Depois
tu és o cisne que desliza
vencido,
no meu corpo amanhecido.
SEXTETO
És a flauta que estonteia
o trompete irreverente que destoa
o violoncelo displicente que vagueia
pela noite de um nocturno que magoa
guitarra tão doída que soluça
violino tão doce que arrepia
e sax tão sexy que me aguça
o despudor de fugir da harmonia.
ROMÃ
Abri uma romã
Entre o horror e o fascínio
de um útero de súbito a descoberto,
sacudiu-me um vómito de prazer
e atirei-me a ela.
Desfi-la. Desfiz-e.
Depois
Tudo voltou harmoniosamente
Ao seu lugar
Num esplendor incrível de nudez.
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