Pobre velha música
Pobre velha música!
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.
Recordo outro ouvir-te.
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.
Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei
Fui-o outrora agora.
Mais uma vez, Pessoa evoca o tema da infância e da saudade do tempo que foi feliz, mas já é passado e, como tal, só pode ser recuperado e revivido através da memória.
Todavia paira a incerteza acerca da felicidade (Eu era feliz? Não sei) realmente fruída naquele tempo. Tal dúvida se estende à própria música (Não sei se te ouvi). Mas isto, não tem importância, pois a música tem um forte poder de sugestionar e, portanto, ela é capaz de estimular uma felicidade imaginada, ficticiamente vivida no passado, mas só percebida no presente (Fui-o outrora agora).
O que a música provoca no poeta não é um estado de felicidade, mas sim consciência de que a perdeu e o desejo de recuperá-la.
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Zenóbia Collares Moreira Cunha
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