20 de abril de 2010

O Amor na Poesia Palaciana.


A poesia, que se segue, de João Ruiz de Castelo Branco, compilada no Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende, tem ainda um parentesco muito próximo com as cantigas da época dos trovadores, como a súplica chorosa e apaixonada, o sofrimento por amor e o platonismo que bem caracterizam a poesia trovadoresca. Todavia, apesar de cultivarem a mesma concepção do amor do período medieval, já se observa a irrupção do erotismo e da expressão do desejo carnal, que será tão apreciada pelos poetas renascentista.


Senhora, partem tam tristes
Meus olhos por vós, meu bem,
Que nunca tam tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.

Tam tristes, tam saudosos,
Tam doentes da partida.
Tam cansados, tam chorosos,
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida.

Partem tam tristes os tristes,
Tam fora de esperar bem,
Que nunca tam tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.

João Ruiz de Castelo Branco, nesta cantiga, desenvolve um tema privilegiadíssimo pelos trovadores medievais e pelos poetas quinhentistas: o tema da separação da mulher amada, da tristeza derivada da partida, também desenvolvido por Camões, em sua lírica.
Na cantiga acima, o eu-lírico assume a postura do amante desiludido de encontrar correspondência ao seu amor no coração da mulher amada, indiferente aos seus sentimentos (partem tam tristes os tristes,/ tam fora de esperar bem). Ao mesmo tempo em que se lamenta, o eu-lirico procura despertar sentimentos de culpa na sua “Senhora” pelo seu desgosto e por sua partida (Que nunca tam tristes vistes / Outros nenhuns por ninguém).
O vocativo “Senhora”, iniciando o primeiro verso da cantiga, caracteriza a mulher em conformidade com a tipologia própria do período trovadoresco: a mulher de classe superior a do poeta, inacessível, distante e indiferente aos apelos amorosos do homem apaixonado.
Vale observar a enorme importância que é dada aos “olhos”, ao longo das estrofes. Eles são personificados e, num processo metonímico, passam a significar o próprio eu-lírico (partem meus olhos= eu parto, intensificando o sentido das palavras e da dor do amante desprezado).
Tal personificação concede uma poderosa expressividade à dimensão do padecimento do amante, ao seu estado de espírito melancólico e turvado pela tristeza, pela saudade, pelo pranto copioso e, por conseqüência, enfatiza o seu desejo exagerado de morrer, hiperbolicamente traduzido no verso “Da morte mais desejosos / Cem mil vezes que da vida”.
A anáfora impõe-se, também, como um elemento intensificador de grande expressividade no contexto da cantiga (Tam tristes, tam saudosos, /Tam doentes da partida / Tam doentes, tam chorosos [...] Tam fora de esperar bem).
Apesar da frivolidade da maioria da produção poética do Período da Poesia Palaciana, compilada no Cancioneiro Geral, alguns poetas chamam a nossa atenção, em razão da qualidade das suas composições, especialmente os pré-renascentistas e, depois, adeptos da “novidade” renascentista, como Bernardim Ribeiro, João de Aguiar, D. Diogo de Noronha, dentre outros.
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Autora: Zenóbia Collares Moreira


5 comentários:

Anonymous disse...

Conhecia eara cantiga, mas ignorava o seu autor. Aprecio muitíssimo este tipo de poesia medieval. Maravilha!

Maria Antónia- Porto;PT disse...

Zenóbia/Eva

sou leitora assídua deste blog, um dos melhores sobre literatura. Parabéns.

EVA-RN (ZCMC) disse...

ANÔNIMO

Eu também aprecio muito a poesia medieval. Seja bem vindo ao blog.

EVA-RN (ZCMC) disse...

MARIA ANTÓNIA

Obrigada pela visita e pelo apoio ao blog. Um blog literário nem sempre é procurado por pessoas que não amam a literatura. Graças a Deus ainda há quem aprecie a poesia e frequente este recando dedicado às belas letras.

via láctia literatura disse...

O amor
Autor poeta
Raimundo Nonato da Silva

A paixão é o caminho
Para casa do amor
Na entrada do jardim
Caminha o cheiro da flor
E depois que o homem adormece
Todo ele é sonhador

O amor é uma coisa
Que só Deus sabe explicar
Faz branco gostar de negro
E pobre com rico casar
Ninguém tem nada com isso
Coisa bonita é amar

O amor é deste jeito
Tira toda confusão
Faz uma mulher baixinha
Gostar de um homenzarrão
Como é bonito o amor
Ninguém der opinião

Não precisa de beleza
Dinheiro e grande valor
A mulher pode ser linda
Bonita como uma flor
Se o homem não gostar dela
Não quer nem lhe dar amor

Eu admiro o amor
Por isso é que me comovo
Faz velho gostar de nova
Idosa gostar de novo
Se Deus fez o amor livre
Vamos respeitar meu povo

Da mesma forma do homem
Pois é a mulher também
Se ela não gostar dele
Não ver beleza se tem
Que vaidade não faz
Ninguém gostar de ninguém









Amor só se torna feio
Se tiver esta questão
De um macho com outro macho
Sapatão com sapatão
Por que Deus não abençoa
Este tipo de união

Vovô um dia falou
Eu disse vô acredito
Que às vezes a mulher deixa
Um homem branco e bonito
Para se casar com um negro
Que é vê são Benedito

O amor é tão finíssimo
Que tem a mais alta linha
Faz o rapaz fraco e magro
Gosta da mulher gordinha
Se zangue quem achar ruim
A opinião é minha

Amor faz mulher gostar
De careca ou cabeludo
Sobre assunto de amor
Eu aprendo e dou estudo
Não sei de todas as coisas
Mais sei um pouco de tudo

Só o amor é bonito
Deve ser muito aplaudido
Se tiver felicidade
Entre mulher e marido
Mas, se um trair o outro.
O amor ta destruído

Que já tem uma mulher
De outra não precisa não
Quem ama alguém de verdade
Já mais fará traição
Vamos plantar o amor
Para colher união





Coisa bonita que acho
É um casal ajustado
Ela ama muito a ele
Ele por ela é amado
Se um não trair o outro
Nem um morre separado

Se o homem fosse pra ter
Na vida mais de uma paixão
Pois mais de uma mulher
Deus tinha dado a Adão
Mas, deus só lhe deu só uma.
Já é de mais meu irmão

A mulher é uma rosa
Para enfeitar o jardim
Se não fosse Deus e ela
Este mundo era ruim
Se um dia acabar mulher
Peso a Deus que me der fim

A mulher me caricia
E Deus é quem me sustenta
Ela sabe dar carinho
Seu amor me alimenta
Se eu puder beijo ela
Até entortar a venta

Mulher pra me é princesa
Rainha e estrela bela
Esta jóia preciosa
Só quem tem coração zela
Quem tem uma e quer ter outra
Não ta respeitando ela

Acho o mundo amargo e azedo
Mesmo sem chupar limão
A saudade é amargosa
Azeda é a solidão
Uma amarga e outra azeda
O sabor do coração

Quem estar desencontrado
Só pensa em se encontrar
Quem perdeu vai à procura
Quem busca é que quer achar
E só desiste da busca
Quem cansa de procurar


Distancia ausência e saudade
Deixa o meu peito doente
Mas, apalavra saudade.
Nem todo mundo não sente
O desejo de estar perto
De quem estar longe da gente

Ò mundo maldoso e triste
Às vezes foco pensando
Falo de me pra me mesmo
Pergunto e vou respostado
Porque é que um sorri
Quando tem outro chorando

Tem pessoas que sorrir
Porque não sabe chorar
Como têm outros que choram
Porque não sabe cantar
Têm outros que vivem tristes
Sem nem um sorriso dar


Amor

Amor tem fama a granel
Por ser campeão do pódio
Amor é santo e fiel
Amor não conhece ódio

Dói mais que a dor da morte
A dor que tem o amor
A dor do amor é forte
Mais vale a pena esta dor

O amor deseja o bem
Mesmo sem saber aquém
O amor aprende amar

Amor nunca fica a esmo
Ame o próximo e a si mesmo
Que amor se tem é pradar