Antônio Nobre. Nasceu no Porto, em 1867 e faleceu, vitimado pela tuberculose, em 1900. A sua obra poética resume-se em apenas um livro: “Só”, publicado em 1892.
UM SONHO
Na messe, que enlouquece, estremece a quermesse...
O sol, o celestial girassol, esmorece...
E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos...
As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamacentos
De acentos
Graves,
Suaves...
Flor! enquanto na messe estremece a quemesse
E o sol, o celestial girassol esmorece,
Deixemos estes sons tão serenos e amenos,
Fujamos, Flor! à flor destes fenos...
Soam vesperais as Vêsperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...
Como aqui se está bem! Além freme a quermesse...
-Não sentes um gemer dolente que esmorece?
São os amantes delirantes que em amenos
Beijos se beijam, Flor! à flor dos fenos...
As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...
Esmaece na messe o rumor da quermesse...
-Não ouves este ai que esmaece e esmorece?
É’um noivo a quem fugiu a Flor de olhos amenos,
E chora a sua morta, absorto, à flor dos fenos...
Soam vesperais as Vêsperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...
Penumbra de veludo. Esmorece a quemesse...
Sob o meu braço lasso o meu Lírio esmorece...
Beijo-lhe os boreais belos lábios amenos,
Beijo que freme e foge à flor dos flóreos fenos...
As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves
Suaves...
Teus lábios de cinábrio, entreabre-os! Da quermesse
O rumor amolece, esmaece, esmorece...
Dá-me que eu beije os teus morenos e amenos
Peitos! Rolemos, Flor! à flor dos flóreos fenos...
Soam vesperais as Vêsperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...
Ah! não resistas mais a meus ais! Da quermesse
O atroador clangor, o rumor esmorece...
Rolemos, ó morena! em contactos amenos!
-Vibram três tiros à florida flor dos fenos...
As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves essa quermesse?
E a Flor que sonho? e o sonho? Ah! tudo isso esmorece!
No meu quarto uma luz com lumes amenos,
Chora o vento lá fora, à flor dos flóreos
Suaves...
Três da manhã. Desperto incerto... E essa quermesse?
E a Flor que sonho? e o sonho? Ah! tudo isso esmorece!
No meu quarto uma luz com lumes amenos,
Chora o vento lá fora, à flor dos flóreos fenos...
Chama a atenção, logo à primeira leitura, a sensualidade e a musicalidade que atravessa o poema UM SONHO, um dos mais belos e sonoros do Simbolismo português. Ao princípios da estética simbolista se impõem em vários aspectos, facilmente verificáveis: a sua rarefeita atmosfera, bem típica do obscuro e desordenado universo onírico que desvela e uma série de recursos poéticos muito ao gosto dos poetas simbolistas, postos ao serviço da musicalidade do poema, como os ecos ( “enlourece, estremece a quermesse...”), as aliterações ( “fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos...”), refrões ( “As estrelas em seus halos”).
O ritmo lento produzido pelos refrões, ecos e aliterações, produzem uma musicalidade suave de acalanto, à qual se soma o vocabulário refinado, rico, as rimas preciosas, e o verso livre bem típico da estética simbolista. Por outro lado, o poema preserva uma certa opacidade na explicitação da sua mensagem, apenas sugerida, insinuada mais que descrita ou explicada, mais preocupada, portanto, em atingir o sentir, a emoção que a razão.
Como é próprio do Simbolismo, o “Eu” lírico volta-se para o subjetivismo profundo, na medida em que explora a sua interioridade, a paisagem do inconsciente, o sonho. Apela, assim, para o vago, o nebuloso, o impreciso, a sugestão, através de imagens imprecisas e ambíguas.
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Zenobia Collares Moreira Cunha
Um comentário:
o poema é de eugénio de castro e consta da obras oaristos.
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