O erotismo sensual na poesia de Cruz e Sousa é de uma profunda intensidade carnal. Tal característica faz com que as imagens sensuais percam, em alguns casos, a natureza vaga e apenas sugerida típica do Simbolismo. Mesmo assim, é nítida a influência de Baudelaire em sua poesia.
Em “Broqueis”, o eu-lírico se permite extrapolar o plano do puro idealismo para revelar seus impulsos de luxúria, seus desejos carnais.
A poesia “Lésbia” representa muito bem o erotismo de Cruz e Souza.
LÉSBIA
Cróton selvagem, tinhorão lascivo,
Planta mortal, carnívora, sangrenta,
Da tua carne báquica rebenta
A vermelha explosão de um sangue vivo.
Nesse lábio mordente e convulsivo,
Rir, ri risadas de expressão violenta
O Amor, trágico e triste, e passa, lenta,
A morte, o espasmo gélido, aflitivo...
Lésbia nervosa, fascinante e doente,
Cruel e demoníaca serpente
Das flamejantes atrações do gozo.
Dos teus seios acídulos, amargos,
Fluem capros aromas e os tetargos,
Os ópios de um luar tuberculoso...
Lésbia significa mulher que se entrega livremente aos prazeres da carne. Portanto, como sugere o próprio título do poema, trata-se de um texto erótico. Logo na primeira estrofe, as imagens ligadas ao vermelho e as palavras de conotação erótica reunidas em um só bloco e constituindo um conjunto de fatores que sugerem um voluptuoso orgasmo a agitar o corpo da mulher amada.
O eu-lírico atento e extasiado informa todos as fases do luxuriante prazer carnal, até o seu clímax, visualizando na carne vibrante da amante a imagem do Amor e da Morte, chamando-a de “Cruel e demoníaca serpente” cujos seios exalam “capros aromas”[1], denunciando a sua natureza maligna. Isto significa que a amante fogosa do eu-lírico é uma entidade demoníaca com aparência de mulher real, capaz de arrastá-lo “flamejantes atrações do gozo”.
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1- O adjetivo “capros” faz referência a bode, animal que na mitologia cristã é símbolo do demônio.
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