18 de outubro de 2011

Vinícius de Moraes: Soneto de Fidelidade...




De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que ao mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quanto mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

(Antologia poética.   Rio de Janeiro. A Noite, 1949.)

O Soneto de Fidelidade, de Vinicius de Moraes, poeta brasileiro já falecido, é considerado como um dos mais belos e bem construídos da poesia brasileira. Vale notar um timbre camoniano a percorrer os versos do soneto.
Logo no primeiro quarteto, o eu-lírico explicita a sua atitude perante o amor que sente, ou seja, dedicará uma atenção absoluta e um zelo sem medidas ao sentimento amoroso, de tal forma que, mesmo confrontado com outros “encantos”, o Amor resistirá, manter-se-á fiel, afirmando-se, crescendo e fortalecendo-se em sem pensamento.
No quarteto seguinte, o poeta expressa seu desejo de viver o Amor intensamente “em cada momento”, de louvá-lo em sua poesia, solidário em suas alegrias e tristezas, rindo com seus contentamentos e derramando lágrimas em seus momentos de pesar.  A seguir, ele declara seu desejo: ter uma longa vida, sem que a morte o ameace. Morte que constitui a angústia de quem vive a dúvida por ignorar a data da partida, e que não lhe venha “a triste solidão” resultante do amor extinto.
Finalmente, no último terceto, o autor tenta finalizar o seu pensamento, expressando seu anseio de poder, no futuro, falar de forma positiva do Amor que teve. Para isto, é necessário que este não seja imortal, uma vez que, sendo chama (ardente), pode apagar-se com algum revés do destino, mas que seja infinito, isto é, verdadeiro, intenso e pleno, enquanto dure.
Vale notar nesse soneto a concisão e a clareza de linguagem, o comedimento na expressão do sentimento, características clássicas que eliminaram as abordagens alegóricas e a retórica emocional, declamatória presentes na fase inicial da produção poética de Vinícius de Moraes.

Zenóbia Collares Moreira


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