Camões, quando se trata de expressar os males que sofreu ao longo da vida, por causa do amor, não mede esforços para se queixar reiteradamente da perseguição da “inexorável Fortuna” e dos próprios “erros” cometidos, que tantos padecimentos lhe trouxeram.
Contudo, é ao Amor que o poeta culpabiliza de forma decisiva por suas vicissitudes amorosas. Ele é a causa das suas angústias, padecimentos e agitações interiores. Em sua lírica, vários sonetos abordam o tema, reiterando os malesque lhe são causados por esse sentimento. Dentre tantos, o que se segue, figura entre os mais pungentes e belos sonetos do poeta:
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram,
A não querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa a que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.
De amor não vi senão breves enganos.
Oh! Quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Gênio de vinganças!
Logo à primeira leitura, podemos observar que o soneto se organiza em duas unidades de sentido: A primeira unidade, constituída por doze dos quatorze versos, tem um caráter confessional de cunho autobiográfico, que trata da enumeração das causas que ensejaram as vicissitudes do eu - lírico, ao longo de sua vida, toda ela transcorrida em desventuras, a vida e o amor só oferecem sofrimento e desenganos para o poeta.
Logo à primeira leitura, podemos observar que o soneto se organiza em duas unidades de sentido: A primeira unidade, constituída por doze dos quatorze versos, tem um caráter confessional de cunho autobiográfico, que trata da enumeração das causas que ensejaram as vicissitudes do eu - lírico, ao longo de sua vida, toda ela transcorrida em desventuras, a vida e o amor só oferecem sofrimento e desenganos para o poeta.
Daí o lamentoso e amargurado tom das suas reflexões acerca da ação maléfica de três poderosos elementos, aos quais atribui uma conotação muito negativa - os seus próprios erros, a má fortuna e o amor ardente – todos conjurados para o fazerem infeliz. Os “erros” são negativos por sua própria natureza transgressiva; a “Fortuna” é adjetivada como má, e o “Amor”, sendo ardente, com a sua carga de paixão avassaladora, propende para o exagero desmedido, cujas conseqüências dolorosas ultrapassaram os males decorrentes dos atropelos causados pelos outros dois agentes dos seus infortúnios. O amor ardente foi quem mais tiranizou o poeta com os seus enganos. Assim, ele “somente” seria o bastante para promover todos os padecimentos do poeta.
Como acontece em muitos outros sonetos do poeta, a linguagem que plasma o soneto privilegia um tipo de discurso hiperbólico e a primeira pessoa do singular, assinalando a hipertrofia do eu, o tom dramático e confessional que tipifica o lirismo maneirista camoniano.
O eu - lírico reconhece que cometeu muitos erros (errei todo o discurso dos meus anos), admite que, com suas mal fundadas esperanças, predestinadas ao fracasso, ensejou os castigos e os revezes da má fortuna.
É do tempo presente que o poeta relembra tudo que passou, o seu passado permeado pelo sofrimento (“a grande dor das coisas que passaram”) pela desesperança e pelo desengano amoroso que o fizeram melancólico e dominado pelo gosto de ser triste (“Que as magoadas iras me ensinaram, / A não querer já nunca ser contente”).
Esse gosto de ser triste e o culto à melancolia tipificam a lírica dos poetas maneirista, da mesma forma que a visão desencantada e pessimista em relação à vida e ao amor, sempre presentes na poesia de Camões,
A segunda unidade compreende apenas os dois últimos versos, e exprime a revolta do eu - lírico e seu conseqüente desejo de fartar o seu “duro gênio de vinganças” .
Zenóbia Collares Moreira Cunha
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