O Simbolismo é um estilo de época de difícil definição, porque o movimento que o instaurou não constituiu um corpo de doutrinas nem um programa com objetivos claros, coerentes e precisos. Seus adeptos tinham em comum apenas alguns ideais. Surgido na França, o Simbolismo afirmou-se como uma reação contra o Realismo e o Naturalismo na poesia; como uma obstinada oposição contra o Positivismo em todos os setores: arte, moral, filosofia, etc.
De certo modo, o Simbolismo instaurou-se como uma negação absoluta de toda a poesia que surgiu antes das propostas revolucionárias e inovadoras dos simbolistas que apregoavam a legitimidade da “poesia pura”, um tipo de poesia que tem a sua gênese no espírito irracional, não conceitual da linguagem, avesso a qualquer interpretação lógica.
Para o poeta simbolista o que tinha importância eram os estados de alma que podiam ser percebidos, ou seja: os seus próprios. Daí a sua egolatria, o seu notório individualismo, sua indiferença com o social. A poesia renegou a herança parnasiana e ignorou a problemática social. Em lugar disto, fez aliança com a música, pas-
sou à exploração do inconsciente por meio de símbolos e sugestões, preferindo o mundo subjetivo ao obje-
tivo, o invisível ao visível, buscando a compreensão da vida por meio da intuição e do irracional, explorando a realidade situada além do real e da razão.
A leitura da poesia simbolista exige esforço de penetração, dada à opacidade dos seus significados. Em lugar da expressão direta, incapaz de captar as essências internas e os sentimentos mais intimamente pessoais, o Simbolismo usava processos indiretos, associações de idéias, representadas por metáforas e símbolos, além de buscar efeitos sonoros nos elementos musicais, tonais e rítmicos, aos quais se somavam os efeitos das co-
res.
Foi uma das características da época simbolista a fusão da música, pintura e literatura. O Simbolismo foi in- troduzido em Portugal com a publicação, em Paris, de “OARITOS”, livro de poemas de Eugênio de Castro, em 1890. Todavia, cabe a Camilo Pessanha o mérito de ter sido o maior representante da literatura simbolista portuguesa e o único poeta que revela, em sua poesia, as características fundamentais desse estilo de época. É o poeta da dor, da ilusão, da nostalgia. Publicou, postumamente, em 1920, Clépsidra, seu único livro. Clépsidra é a obra de um homem ensimesmado, inquieto com a transitoriedade da vida. Reúne poesias cheias de associações de idéias, em que se ligam as impressões do mundo Interior com o exterior, sugerindo estados de alma. Camilo Pessanha foi fortemente influenciado pela poesia do poeta francês Verlaine e pela filosofia pessimista de Shopenhauer. Seus poemas simbolistas influenciaram a geração de Orpheu, desde Mário de Sá Carneiro até Fernando Pessoa.
Caminho I
Tenho sonhos cruéis; n'alma doente,
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...
Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...
Porque a dor, esta falta d' harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d'agora.
Sem ela o coração é quase nada:
Um Sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora
No poema "Caminho" figuram duas constantes na poesia de Camilo Pessanha: a preocupação com o tempo e a sua dor existencial. O poeta não receia o presente, posto que o conhece bem, seu receio projeta-se no
tempo futuro que sabe ser insondável. Todavia, este tempo presente é praticamente inexistente pois se constitui de um somatório do tempo passado com o tempo atual que se coloca “nas arestas do futuro” amedrontador. O soneto se estrutura a partir de dois elementos temporais tratados de forma antagônica – o presente e o futuro. O tempo presente é o tempo real, o tempo da experiência, não suscita temores posto ser conhecido. Este é o tempo da convivência com a dor que sente e da qual deseja, em vão, se libertar. Paradoxalmente, em vez de se lamentar da dor que o fustiga no presente, o poeta sente saudade antecipada por um dia deixar de senti-la: “Saudades dessa dor que em vão procuro”/ “Do peito afugentar bem rudemente”. É no futuro, portanto, que se situa o “drama” do poeta, é o tempo ainda não vivido que receia e o faz sofrer antecipadamente: “Tenho sonhos cruéis; n’alma doente/ Sinto um vago receio prematuro./ Vou a medo na aresta do futuro”. O seu desejo é que o tempo presente nunca se extinga nesse futuro ameaçador. A dor do poeta não é amorosa, ela é puramente existencial, é inerente ao ser. Todavia, é reconhecida como necessária à constituição do sujeito, como fator essencial à existência, pois “Sem ela o coração é quase nada”
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Zenóbia Collares Moreira Cunha
2 comentários:
O blog é bom, mas esses efeitos visuais atrapalham bastante a leitura.
olá professora seu blog é execelente sou aluno do curso de letras da UFPB e estou no sétimo periodo seu artigo foi de grande valia pra mim concordo com o (a) colega os efeitos atrapalham um pouco a leitura
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